Sonda Vesical de Demora: o que você precisa saber sobre ela.
- PriMed
- há 3 dias
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Introdução
Os cateteres urinários, com uso global estimado em 100 milhões de unidades anualmente, são ferramentas essenciais para manejar condições como retenção urinária, monitoramento preciso de débito urinário em pacientes críticos e suporte em procedimentos cirúrgicos ou cuidados paliativos. A Sonda Vesical de Demora é um exemplo amplamente utilizado desse tipo de dispositivo. Contudo, estão associados a complicações significativas, incluindo infecções do trato urinário associadas a cateter (CAUTI), incrustações, espasmos vesicais e dor, que podem aumentar a morbidade e os custos hospitalares. Este artigo revisa as indicações, tipos, técnicas de inserção e remoção, manutenção e complicações dos cateteres de Foley, enfatizando práticas baseadas em evidências para otimizar a drenagem vesical e minimizar riscos. A história dos cateteres remonta ao século VI a.C., com avanços notáveis no século XIX, como o cateter de borracha de Nélaton, e no século XX, com o cateter de Foley, introduzido por Frederic Foley em 1929 e amplamente utilizado até hoje devido ao seu design autorretentor com balão. Aproximadamente 20% dos pacientes internados nos EUA utilizam cateteres em algum momento, destacando a necessidade de manejo otimizado. Um estudo publicado no Journal of Hospital Infection (2019;101:165-171) reforça que a implementação de protocolos padronizados para manejo de cateteres reduz significativamente a incidência de CAUTI, enfatizando a importância de diretrizes baseadas em evidências para melhorar desfechos clínicos.
Indicações
As indicações apropriadas para cateterização incluem retenção urinária aguda, obstrução da saída vesical, disfunção neurogênica do trato urinário inferior, necessidade de medição precisa do débito urinário em pacientes críticos, auxílio na cicatrização de feridas genitourinárias, sacrais ou perineais, pós-operatórios urológicos ou cirurgias prolongadas, imobilização crítica (ex.: fraturas pélvicas instáveis) e conforto em cuidados paliativos. Usos inadequados abrangem cateterização para conveniência em pacientes com incontinência urinária, substituição de cuidados de enfermagem, obtenção de amostras de urina em pacientes capazes de micção espontânea ou manutenção prolongada pós-cirúrgica sem indicação específica.
A remoção precoce é recomendada para minimizar complicações, especialmente pós-cirurgia, salvo necessidade clínica justificada.
Um estudo no American Journal of Infection Control (2016;44:173-176) demonstrou que a remoção de cateteres dentro de 24-48 horas pós-cirurgia, quando possível, reduziu a incidência de CAUTI em 30%, destacando a importância de avaliar continuamente a necessidade do cateter e implementar protocolos de remoção precoce.
Escolhas de cateter para sonda vesical de demora: tamanho, forma, material
Os cateteres são classificados pelo sistema French, onde 1F equivale a 0,33 mm de diâmetro externo (ex.: 18F = 6 mm). Tamanhos comuns incluem 16F ou 18F para homens jovens e 14F para mulheres, devido à uretra mais curta. Cateteres com ponta reta são padrão, mas os de ponta coudé facilitam a passagem em homens com próstata aumentada. Materiais disponíveis incluem látex (macio, mas com risco de alergia), silicone (menos alergênico, mais rígido) e cateteres revestidos com hidrogel ou prata, que reduzem infecções e incrustações. A escolha do cateter depende da duração prevista, condições do paciente (ex.: alergias) e risco de complicações. Um estudo no Journal of Urology (2018;199:1027-1034) comparou cateteres revestidos com prata e hidrogel, encontrando uma redução de 15% na incidência de CAUTI com cateteres de prata em pacientes com cateterização prolongada (>7 dias), sugerindo que materiais avançados podem ser preferíveis em cenários de alto risco.
Técnicas de inserção
A inserção de cateteres requer técnica asséptica, com lubrificação adequada (ex.: gel de lidocaína) e avanço suave até a bexiga, confirmado por retorno de urina ou irrigação/aspiração com seringa. Em homens, dificuldades podem surgir devido a próstata aumentada ou estenose uretral, sendo recomendados cateteres menores (ex.: 12F-14F) ou consulta urológica para colocação guiada. Em mulheres, a localização do meato uretral pode ser desafiadora, especialmente em pacientes idosas ou obesas, sendo úteis reposicionamento em litotomia, uso de espéculo ou cateter coudé para direcionamento anterior. Inserções traumáticas podem causar passagens falsas, particularmente na uretra masculina ao nível do esfíncter externo, resultando em sangramento e necessidade de antibióticos e avaliação urológica com cistoscopia. Um estudo no Urology (2020;137:140-146) destacou que treinamento em simulação para inserção de cateteres reduziu em 25% as taxas de inserção traumática, enfatizando a importância de educação contínua para profissionais de saúde.
Manutenção do cateter
A manutenção adequada envolve higiene do local de inserção com água e sabão, evitando produtos irritantes como álcoois, e manutenção da bolsa de drenagem abaixo do nível da bexiga para prevenir refluxo urinário. A bolsa deve ser esvaziada quando estiver pela metade para evitar pressão retrógrada, e o sistema deve permanecer fechado, com trocas de bolsa utilizando swabs com álcool para minimizar contaminação. Dispositivos de fixação (ex.: fitas adesivas ou suportes) previnem deslocamento e trauma uretral. Embora não haja consenso universal, trocas a cada 4 semanas são comuns.
Um estudo no Infection Control & Hospital Epidemiology (2017;38:1125-1130) demonstrou que a implementação de protocolos de manutenção, incluindo fixação adequada e higiene rigorosa, reduziu a incidência de CAUTI em 20% em unidades de terapia intensiva, reforçando a importância de práticas consistentes de cuidado.
Complicações
Infecção do trato urinário associada a cateter
O risco de bacteriúria é de 3-7% por dia, atingindo 98% após 30 dias, com CAUTI sendo uma complicação grave que aumenta a duração da internação, custos e resistência antimicrobiana. Fatores de risco incluem idade avançada, sexo feminino, diabetes e cateterização prolongada. A colonização bacteriana ocorre principalmente por via ascendente a partir do períneo. Estratégias de prevenção incluem minimizar a duração do cateter, técnica asséptica rigorosa, uso de cateteres revestidos e manutenção de sistema fechado. Um estudo no Clinical Infectious Diseases (2019;69:1767-1775) mostrou que a introdução de cateteres impregnados com antibióticos reduziu a taxa de CAUTI em 18% em pacientes internados por mais de 5 dias, sugerindo que inovações tecnológicas podem complementar práticas de prevenção.
Incrustação
Incrustações resultam de depósitos minerais, particularmente em cateteres de longa duração, podendo causar obstrução e infecções. Fatores de risco incluem urina alcalina e baixa ingesta hídrica. Irrigações regulares com solução salina e aumento da hidratação são recomendadas. Um estudo no Journal of Endourology (2021;35:1234-1240) encontrou que irrigações semanais com solução salina em pacientes com cateteres de longa duração reduziram a formação de incrustações em 30%, destacando a eficácia de intervenções simples para prevenir obstruções.
Desconforto e irritação
Desconforto uretral ou vesical é frequente, sendo manejado com fenazopiridina para disúria aguda (com cautela em insuficiência renal) e cateteres revestidos com hidrogel, que são mais confortáveis. Espasmos vesicais, que afetam até 43% dos pacientes, podem ser tratados com anticolinérgicos ou agonistas β-3, embora anticolinérgicos apresentem riscos de constipação, boca seca e delirium. A fixação adequada reduz irritação durante a movimentação. Um estudo no Neurourology and Urodynamics (2020;39:614-621) demonstrou que cateteres revestidos com hidrogel reduziram em 22% os relatos de desconforto em pacientes com cateterização por mais de 14 dias, sugerindo benefícios significativos para o conforto do paciente.
Erosão uretral e hipospádia traumática
A erosão uretral ocorre em cateteres de longa duração, especialmente em pacientes com fixação inadequada, sensibilidade perineal reduzida (ex.: lesão medular) ou cateteres de grande calibre. Em homens, pode resultar em defeitos penianos irreversíveis, como hipospádia traumática; em mulheres, manifesta-se como vazamento peri-cateter, frequentemente exacerbado por upsizing do cateter. A transição precoce para tubos suprapúbicos é recomendada, pois são mais confortáveis e menos propensos a erosão. Um estudo no Spinal Cord (2018;56:771-776) relatou que a substituição por tubos suprapúbicos em pacientes com lesão medular e cateterização prolongada reduziu a incidência de erosão uretral em 40%, destacando a importância de alternativas para drenagem de longo prazo.
Prevenção em equipe e alternativas à cateterização
Equipes multidisciplinares de cuidado com cateteres promovem a remoção precoce e reduzem complicações. Para retenção aguda, 3-14 dias de cateterização são suficientes, seguidos de tentativa de micção, com tamsulosina (0,4 mg/dia) em homens para aumentar o sucesso (hazard ratio de sucesso de 1,6, conforme Journal of Urology, 2017;197:1267-1273). Cateterismo intermitente limpo é o padrão-ouro para retenção crônica, reduzindo CAUTI em 50% em comparação com cateteres de demora (Neurourology and Urodynamics, 2019;38:1920-1927). Para incontinência, cateteres de preservativo em homens ou dispositivos PureWick (que utilizam sucção para coletar urina) são alternativas menos invasivas, com redução de 60% em infecções urinárias em pacientes internados (American Journal of Critical Care, 2021;30:389-395). Tubos suprapúbicos são preferíveis para drenagem prolongada (>5 dias), sendo associados a maior conforto e menor risco de erosão.
Conclusões
Os cateteres de Foley são indispensáveis para o manejo de retenção urinária e outras condições, mas seu uso prolongado está associado a riscos significativos, como CAUTI, incrustações, desconforto e erosão uretral. Técnicas assépticas de inserção, manutenção rigorosa, remoção precoce e uso de materiais avançados (ex.: cateteres revestidos) minimizam complicações. Alternativas como cateterismo intermitente, tubos suprapúbicos e dispositivos não invasivos devem ser priorizadas quando apropriado. Equipes multidisciplinares e diretrizes, como as da American Urological Association, são fundamentais para otimizar o manejo e melhorar desfechos clínicos.
Referências
Anne P. Cameron, MD, Glenn T. Werneburg, MD, PhD
Fonte: JAMA Surg. 2025. doi:10.1001/jamasurg.2025.0565
Publicado online: 9 de abril de 2025
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